Revista Virtual Astro-Lábio de Arte & Literaturas 2ª edição_
Casa e suas adjacências – jardim, muro, mobiliário, caracol, tapete, cozinha, etc.

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DIÁRIO POLIFÔNICO
CASA EM OBRAS

Flusser + Matta-Clark

"Girar: a parede de uma biblioteca distingue-se basicamente de todas as outras. Paredes são disposições para a distinção entre espaços públicos e privados. Essa diferença, obtida graças a parede, é primordial, pois a vida humana é um oscilar entre o público e o privado. O ser humano é um habitante de espaços interiores e um experimentador de espaços exteriores. Para permitir este oscilar as paredes têm de ser levantadas. Tem-se de inroduzir algumas aberturas (portas), por meio das quais saímos e voltamos, e outras (as janelas), por meio das quais aquilo que é público é visto como privado e aquilo que é privado é inspecionado como público. [...]
A parede da biblioteca, ao contrário, é diferente e funciona de maneira diferente. A sequência de livros uns aos lados dos outros e de uma sobre a outra forma uma parede de segundo grau, que se encontra diante da parede propriamente dita. Entre a parede de livros e a parede mesmo, há uma zona de papel na qual, conforme as reflexões empreendidas aqui, inúmeros braços tentam nos capturar. Eles só nos capturam quando nós mesmos estiramos o nosso em sua direção, pegamos da parede uma lombada de livro e giramos esse livro alcançado para nos deixar capturar por ele.
'Giro' é sinônimo de 'revolução'. Duas coisas distintas sucedem-se ao se alcançar um livro e girá-lo: primeiro, a parede propriamente dita, atrás do livro retirado, fica apreensível pelo olhar. Segundo o braço de um outro que nesse livro se esforça para nos alcançar fica tangível. 'Revolução' significa com certeza olhar as paredes que nos separam e tornar as outras tangíveis (seja vulnerável, cmpreensível ou comovente, reciprocamente)? "  (Vilém Flusser)

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