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não tenho seu endereço
perdi agendas, cadernos, guardanapos, bilhetes, souvenirs
no translado riosampaulo
e desejei demais um endereço residencial -
um nome de rua, um número
que corresponda a uma porta
fenda maleável inscrita num muro -
travessia possível para um interior
que nos envolve desde o exterior -
a casa é um tipo de pele; endereçar-se
a casa, visitá-la, conhecê-la
tê-la ao alcance das mãos
trazer dela um
fragmento - o livro; a caderneta de recados;
a xícara lascada; o chaveiro -
ou antes
o contrário
introduzir na casa
um fragmento do fora,
tornar dela
uma pedra; um cristal; um jornal; uma carta em branco -
pretender esquecer
na casa
o casaco; a bolsa de pertences íntimos;
os grampos de cabelo -
é uma incisão, cirurgia
travessia possível
no espaço temporal epidérmico
que amplia como prótese
os corpos...
apaguei tantas vezes o início desse e-mail
porque só me é possível falar
se falo outra coisa
sempre outra
que já não é
que fantasiei uma máquina de escrever (e envelopes
e selos e todo o tempo do mundo nascido entre uma mensagem e outra)
onde cada reinício inaugurasse não só uma nova fala
um outro caminho por onde trafegar mas toda uma paisagem;
um campo; uma folha de papel virgem -
de modo que a fatura
deste tráfico de afetos fosse marcada
não só pelo prazer do branco que tudo reflete
(e que é inteiramente diverso da luz do monitor que tudo ofusca)
pelo apagamento (delelete-delete-delete) pelo desfazimento do escrito
mas pela possibilidade sempre renovada
de maltratar a celulose,
amassá-la
descartá-la
rasgá-la
lançá-la
amarrotada, queimada,
ao lixo -
não arrancando assim
- e nem mais uma vez -
às folhas gastas com pensamentos falhos
arranhadas por trajetos
inconclusos
um Destino, uma Morte, um Fim, uma Casa.
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