Revista Virtual Astro-Lábio de Arte & Literaturas 2ª edição_
Casa e suas adjacências – jardim, muro, mobiliário, caracol, tapete, cozinha, etc.

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DIÁRIO POLIFÔNICO
CASA EM OBRAS




Louvor do lixo

para a Amra Alirejsovic
(quem não viu Sevilha não viu maravilha)

É preciso desentropiar
a casa
todos os dias
para adiar o Kaos
a poetisa é a mulher-a-dias
arruma o poema
como arruma a casa
que o terramoto ameaça
a entropia de cada dia
nos dai hoje
o pó e o amor
como o poema
são feitos
no dia a dia
o pão come-se
ou deita-se fora
embrulhado
(uma pomba
pode visitar o lixo)
o poema desentropia
o pó deposita-se no poema
o poema cantava o amor
graças ao amor
e ao poema
o puzzle que eu era
resolveu-se
mas é preciso agradecer o pó
o pó que torna o livro
ilegível como o tigre
o amor não se gasta
os livros sim
a mesa cai
à passagem do cão
e o puzzle fica por fazer
no chão

Lopes, Adília, A mulher-a-dias, Lisboa: & etc, 2002

***





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Eu tenho um pensamento vivo.

Sonho pra fazer e faço.

A casa depende do espírito, é uma casa espiritual.

Aquelas flores é feita com caco, de telhas, é um coisa mais forte, caco de pedaço de pedra, porque quero fazer que fique aí, não se desmanche. A chuva bate, lava, é sempre, é uma sempre-viva aquilo.

Às vezes saio para ver essas coisinhas que eu mesmo faço e eu mesmo fico satisfeito, me conforta.

Esta casa não é uma casa, isto é uma história, é uma história porque foi feita por pensamento e sonho.

Trabalhei sozinho, todo esse movimento que está aqui não tem ajuda, eu que fiz tudo com as minhas mãos.

Eu quero os cacos porque dos cacos eu vou fazer as coisas para as pessoas se admirar, pra quê quero comprar uma jarra nova? Jarra comprada eu não preciso. Isso não tem graça.

E assim levo a minha vida assim nos sonhos, sonho toda noite. Eu durmo tarde da noite, mas quando vou dormir assim mesmo vêm os sonhos. Vêm aqueles sonhos, aquela visão, aquele pensamento...

Eu indo em Cabo Frio, entro na casa daquelas grã-finas, eu trago tudo na mente que eu vi naquela casa, aí é que está, não tiro retrato não, se eu tiver o material, chego em casa e vou fazer perfeito.

Ainda está claro do dia, eu já estou procurando a cama, mas não pra dormir, prá pensar. Me deito na cama, pego a imaginar até meia-noite, pensando. O meu sentimento vai muito longe.

Vem uma pessoa com um azulejo, eu boto. Vem uma pessoa com um caramujo, eu boto. Vem uma pessoa com um prato quebrado, quebra uma jarra, eu faço aquela ramagenzinha, uma rosa, boto prá enfeitar.


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Gabriel Joaquim dos Santos
http://www.casadaflor.org.br

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