SP22032012 - 00H26
Quando ele tem um caderno bem feito e uma caneta boa, sente mais vontade de fazer alguma coisa, mesmo que seja rabiscar. Um pedaço de madeira velha muitas vezes é melhor caderno do que uma tela de linho.
***
Todas as nossas ideias se perderam em sonhos
Naquela mesma tarde
O chão repleto de guimbas de cigarro
Todas aquelas coisas espalhadas em todos aqueles cômodos
Tinta pelo chão, papéis, caixas, videocassetes, copos quebrados...
Uma coisa não é o que você diz que é
É muito mais
É uma série no mais amplo sentido da palavra
Uma cadeira não é uma cadeira
É uma estrutura inconcebivelmente complexa
Atomicamente
Eletronicamente, quimicamente, etc
Por outro lado
Pensá-la como uma simples cadeira
é o que se chamou de "identificação"
E a totalidade dessas identificações
que produzem nonsense
e tirania
***
Mas as coisas se confundem com os espaços ou na pior das hipóteses se relacionam com eles. Eles estão lá como grandes caixas cheias de quinquilharias que guardamos ao longo da vida. Como caixas de brinquedo ou porcarias encontradas em um passeio na praia. Acabamos por jogar fora essas merdas. Um maluco ou outro guarda caixas da vida.
Ele acende um baseado. Resolveu arrumar as coisas chapado.
"Porque assim, só o que tiver importância a ponto de eu lembrar é que não merece ser jogado no lixo".
E o que sobra?
A maior parte do que tenho visto é uma merda total e absoluta. Não consigo entender o que as pessoas estão fazendo. O problema é TUDO. A mentalidade, a intenção, as referências, os materiais, a vontade, os espaços, ou o até o que entendo disso tudo.
O caso é que nenhum desses "espaços" é o suficiente. A maioria das pessoas está fingindo fazer alguma coisa, está fingindo tomar atitudes, fingindo se posicionar, fingindo viver.
Só acredito em poeta experimental que tenha vida experimental e isso serve para curadores, críticos, diretores, dançarinos e para mim. Não serve para galeristas, pois obviamente eles tem (assumidamente) um outro papel nessa história da chapeuzinho vermelho.
Vamos!
Vamos levar nossas bandeiras
Vamos formar um grande grupo
Vamos invadir os espaços
Vamos ganhar dinheiro
É isso? Simples assim? E como é se não assim?
Quando fico autocrítico ou quando fico autocrítico por ser autocrítico.
Quando pesa minha consciência por fazer o que não concordo e quando pesa minha consciência por não fazer, pois não concordo e depois ficar achando que era romantismo ou sonho juvenil.
Que meus pais não têm dinheiro e que nem foi por que estavam lutando contra alguma coisa e que gostaria de ter dinheiro mesmo lutando.
***
Olho pela janela e vejo o mesmo prédio de ontem, anteontem e de sexta-feira passada. Não tem ninguém lá. Compulsivamente fico olhando para esse prédio. Esperando alguma coisa acontecer, procurando uma resposta. Ele está lá, na minha frente. Abandonado, silencioso.
Se cala e ignora o barulho dos carros e ônibus que atravessam as ruas.
De uma das janelas saem paletas de uma persiana que se balançam com o vento.
Minha mente é um enorme vazio, ou pequeno. Não importa.
If I saw you now
Could I look in your eyes
Eu estava na varanda pensando nela e um helicóptero foi se aproximando de um enorme prédio do outro lado da rua. Numa estranha mudança do vento a aeronave, que mais parecia um brinquedo, girou e bateu na lateral do edifício. Suas hélices voaram pelos ares e um enorme buraco exibia todo o resto de quando escritórios funcionavam ali.
O sol já deixava o céu azul vivo e ele acordou chorando de um sonho que não se lembrava. Chorando alto e soluçando. Voltou a dormir e foi surpreendido pelos raios de sol esquentando seu rosto. Teve que se levantar para fechar a pesada persiana.
É muito cedo, mas não temos como esquentar a água para o café. A insatisfação de uma caneta sem tinta ou um caderno sem folhas em branco.
Um armário vermelho levemente inclinado para frente com a porta aberta em noventa graus. A porta é pesada e faria com que ele tomba-se, mas a mesma porta que o puxa para frente serve de apoio (muleta) para que não caia. Ele colocou a calça jeans pendurada na porta. Pendendo e quase tocando o chão. Como se estivesse em pé. Nada além de poeira e restos de temperos nas prateleiras do armário.
Quase nenhuma resposta... Algumas muito boas e outras só deixam tudo como está.
Os dias passam.
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