Revista Virtual Astro-Lábio de Arte & Literaturas 2ª edição_
Casa e suas adjacências – jardim, muro, mobiliário, caracol, tapete, cozinha, etc.
BLOG DO PROCESSO
DIÁRIO POLIFÔNICO
CASA EM OBRAS
Casa e suas adjacências – jardim, muro, mobiliário, caracol, tapete, cozinha, etc.
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CASA EM OBRAS
Meu quarto não é uma cama, nem aqui, nem em Paris, nem em Trouville. É uma certa janela, uma certa mesa, a intimidade com a tinta preta, marcas de tinta preta impossíveis de achar em outro lugar, é uma certa cadeira. E certos hábitos que reencontro sempre, aonde quer que eu vá ou esteja, mesmo nos lugares em que não escrevo, como quartos de hotel, por exemplo, o hábito de sempre ter uísque na minha mala, para o caso de insônias ou súbitos desesperos.
(...)
Dá para caminhar de uma ponta a outra dentro desta casa. Sim. Dá para ir e voltar também. E depois há o parque. Lá, existem árvores milenares e árvores ainda jovens. Há lariços, e macieiras, uma nogueira, ameixeiras e uma cerejeira. O pé de abricó morreu. Na frente do meu quarto, há aquela roseira formidável de L’Homme Atlantique. Um salgueiro. Há também cerejeiras-do-japão, palmas-de-santa-rita. E embaixo de uma janela da sala de música há uma camélia, que Dionys Mascolo plantou para mim.
Primeiro troquei a mobília da casa, depois mandei pintar as paredes de novo. E então, talvez dois anos depois, minha vida com a casa teve início.
(...)
Quando eu ia até o fim da casa, lá do outro lado, na direção da ‘casa pequena’, tinha medo do espaço como de uma emboscada. Posso dizer que tinha medo todas as noites. No entanto jamais fiz o menor gesto para que alguém viesse morar aqui. Às vezes, de noite, eu saía já tarde. Adorava as caminhadas, com as pessoas da aldeia, os amigos, os habitantes de Neauphle. Bebíamos. Conversávamos bastante. Íamos a uma espécie de cafeteria grande como uma aldeia de muitos hectares.
(...)
Esse perder-se de si no interior da casa não é voluntário, em absoluto. Eu não dizia: ‘Estou fechada aqui todos os dias do ano.’ Eu não estava, isso seria dizer algo falso. Ia dar voltas, ia ao café. Mas ao mesmo tempo estava aqui. A aldeia e a casa são semelhantes. E a mesa diante do tanque. E a tinta preta. E o papel branco é parecido. Com os livros, não, de repente, com eles nunca é parecido.
Antes de mim, ninguém havia escrito nesta casa. Perguntei ao administrador da municipalidade, aos vizinhos, aos comerciantes. Não. Nunca. Telefonei diversas vezes para Versailles a fim de tentar saber o nome das pessoas que tinham morado nesta casa. Na série dos nomes dos moradores e seus prenomes e sua profissão não havia um só escritor. Ora, todos esses nomes podiam ser nomes de escritores. Todos. Mas não eram. Em volta, havia chácaras de várias famílias. O que encontrei na terra foram as lixeiras dos alemães. A casa foi de fato ocupada por oficiais alemães. Suas lixeiras eram buracos, buracos na terra. Havia muitas conchas de ostras, caixas vazias de produtos caros, sobretudo patê de fois gras, caviar. Exceto cacos de louça, sem dúvida nenhuma louça de Sèvres, os desenhos estavam intactos. E o azul era o azul inocente dos olhos de algumas de nossas crianças.
(...)
Na casa, era no primeiro andar que eu escrevia, não escrevia embaixo. Depois, ao contrário, escrevi no grande cômodo central no térreo para estar menos só, talvez, não sei mais, e também para ver o parque.
Existe isso no livro: a solidão nele é a solidão do mundo inteiro. Está em toda parte. Invadiu tudo. Sempre creio nesta invasão. Como todos. A solidão é aquilo sem o que nada fazemos. Aquilo sem o que nada pode ser visto. É uma forma de pensar, de raciocinar, mas apenas com o pensamento cotidiano. Isso também existe na função de escrever e sobretudo, talvez, dizer a si mesmo que não é preciso se matar todos os dias, visto que é possível se matar a qualquer dia.
(...)
Escrevia todas as manhãs. Mas sem horário certo. Nunca. Exceto quanto à cozinha. Sabia quando precisava ir porque a panela estava fervendo ou para que a comida não queimasse. Quanto aos livros, também era assim. Juro. Tudo, eu juro. Nunca menti em um livro. Nem na vida. Exceto para os homens. Nunca.
(...)
Viver assim, como eu digo que vivia, nessa solidão, por um longo tempo, cria riscos que se precisa correr. É inevitável. Desde o momento em que o ser humano se vê sozinho, ele oscila para a demência. Acredito nisso: acredito que uma pessoa entregue a si mesma já se acha acometida de loucura, porque não há nada que barre seu caminho quando ocorre um delírio pessoal.
Nunca se está só. Nunca se está só, fisicamente. Em parte alguma. Sempre se está em algum lugar. Ouvem-se barulhos na cozinha, na televisão, ou no rádio, nos apartamentos vizinhos, e no prédio inteiro. Sobretudo quando nunca se precisou do silêncio como eu sempre fiz.
(...)
Dormi bastante naquele aposento que se converteu em sala. Por muito tempo acreditei que um quarto de dormir fosse uma coisa convencional. Foi quando trabalhei ali que um quarto de dormir se tornou algo indispensável como os demais quartos, mesmo aqueles vazios, dos outros andares. O espelho da sala era dos proprietários que me precederam. Deixaram-no para mim. O piano, eu o comprei logo depois de comprar a casa, quase pelo mesmo preço.
Ao lado da casa, cem anos atrás, havia uma trilha para o gado vir beber no tanque. Agora o tanque se encontra dentro do meu parque. E não existe mais gado. Na aldeia, não há mais leite fresco de manhã. Há cem anos.
Na verdade, é quando se roda um filme aqui que a casa aparece outra casa, aquela que existiu, certa época, para gente que viveu antes de nós. Na solidão, mostra imediatamente sua graça, como uma outra casa que pertenceria ainda a outras pessoas. Como se algo tão monstruoso como a perda da posse desta casa pudesse ser visto.
O lugar onde se colocam as frutas, os legumes, a manteiga salgada, para manter tudo fresco, lá dentro... Havia um lugar assim... escuro e frio, acho que era assim... escuro e frio... acho que era assim uma despensa, é isso mesmo. Esta é a palavra. Para pôr a salvo as provisões de guerra.
As primeiras plantas que nasceram aqui são as que estão no parapeito das janelas da entrada. É o gerânio-rosa vindo do sul da Espanha. Aromático como o Oriente.
Nesta casa nunca se jogam as flores fora. É um hábito, não uma regra. Nunca, mesmo quando estão mortas, elas sempre ficam onde estão. Existem pétalas de rosas que estão no mesmo lugar há quarenta anos, na mesma jarra. Estão ainda bem rosadas. Secas e Rosas.
O problema, o ano todo, é o crepúsculo. Tanto no verão quanto no inverno.
Há o primeiro crepúsculo, aquele do verão, e não é preciso iluminar o interior da casa.
Depois há o verdadeiro, o crepúsculo do inverno. Às vezes, fecho os postigos das janelas para não ver isso. Há também as cadeiras, elas são arrumadas para o verão. É no terraço que se costuma ficar no verão. Ali converso com os amigos que vêm durante o dia. Pra isso, muitas vezes: conversar.
Sempre é triste, mas não trágico, o inverno, a vida, a injustiça. O horror absoluto de uma certa manhã.
É apenas isso, triste. Nem com o tempo dá para se acostumar com isso.
O mais difícil, nesta casa, é o temor pela sorte das árvores. Sempre. E cada vez. Cada vez que há tempestade, e há muitas tempestades por aqui, a gente torce pelas árvores, tem medo do que possa acontecer com elas. Não sei mais seus nomes na ponta da língua.
- fragmentos de escrever, de marguerite duras.
"A garota afirmou que ela e seus colegas entraram em uma sala e se depararam com Oliveira 'carregando a arma'.
'Aí corri mais rápido, entrei na sala e o professor trancou a porta, botou cadeira, mesa, estante, armário, caderno, tudo. E mandou todo mundo abaixar, ele abaixou também, várias alunos desmaiados na sala, um monte de gente gritando e o professor falava: 'não gritem, não gritem, silêncio'.
Aí eu agachei e fiquei desenhando uma casa na mão com a minha canetinha, a única coisa que eu consegui pegar', disse a aluna à TV."
Télégramme:
( 10 grammes pour aujourd'hui )
-Et les rails que je referai: la question de la mobilité.
Nous vivons les heures de la mobilité, des flux de passage, de l'exil nébuleux.
Je m'interroge sur la notion de maison, comme entité unique, lieu de ressourcement.
Je me retrouve à marcher dans le palais des mémoires de toutes les maisons que j'ai habité. Un temps. Deux temps.
Les maisons s'évanouissent et elles deviennent lieux de mémoire, lieux de la mémoire, où il fait bon se balader entre les temps.
Aujourd'hui mes pas se posent sur d'autres maisons, les traverse, et demain, ils les transporteront ailleurs. (Qui veut dire la lune en Amazir).
Ricoché dans la mémoire, mais pierre qui retombe dans le lieu où je me trouve.
Si je pense à LA maison, j'en ai laissé des briques un peu partout sur mes passages, Une pierre fragmentée entre chaque mouvements.
Je pense aussi à Bruce Nawman et à sa pièce " Get out of my head", par laquelle il spatialise l'espace mental, duquel il nous invite à sortir rapidement.
De la maison-mémoire, que m'invite à visiter la question de la mobilité, à la spatialisation de la mémoire.
L'écriture a vécue la question de la spatialisation ( poésie concrète, spatialisme...), les arts plastiques ont vécus les début de l'installation, le cinéma a suivi le même processus. On a spatialisé la 2 d. Mais qu'avons nous fait de l'espace existant?
Des bâtiments qui ne sont plus construit pour durer et qui offrent, cette vision entropique de l'architecture actuelle; G.Matta Clark et les débuts de l'anarchitecture .Robert Smithson du point de vue du paysage. Des paysages perçus en mouvement. Des constructions sans durée. Des villes-mouvantes aux terrains vagues florissants. Des sculptures qui introduisent la fusion des plans. Qui danses dans la fixité.
Au travers tous ces flux, ceux du monde et ceux de nos corps au quotidien, l'idée de la maison appelle l'idée du point fixe, peut être du point de fuite. Celui à partir de quoi l'équilibre se crée.
Mais lorsqu'on multiplie les points fixes dans le champs, la perspective vibre. Et pourtant de nouveaux équilibres se dessinent à mesure. Des équilibres en mouvement, des équilibres en vibration. Purs flux.
Je pense à la maison-mémoire. Aux maisons de mémoires "volontaires" qui m'ont permis d'archiver, de collectionner des mémoires "involontaires", à la base de tout acte créatif.
( 10 grammes pour aujourd'hui )
-Et les rails que je referai: la question de la mobilité.
Nous vivons les heures de la mobilité, des flux de passage, de l'exil nébuleux.
Je m'interroge sur la notion de maison, comme entité unique, lieu de ressourcement.
Je me retrouve à marcher dans le palais des mémoires de toutes les maisons que j'ai habité. Un temps. Deux temps.
Les maisons s'évanouissent et elles deviennent lieux de mémoire, lieux de la mémoire, où il fait bon se balader entre les temps.
Aujourd'hui mes pas se posent sur d'autres maisons, les traverse, et demain, ils les transporteront ailleurs. (Qui veut dire la lune en Amazir).
Ricoché dans la mémoire, mais pierre qui retombe dans le lieu où je me trouve.
Si je pense à LA maison, j'en ai laissé des briques un peu partout sur mes passages, Une pierre fragmentée entre chaque mouvements.
Je pense aussi à Bruce Nawman et à sa pièce " Get out of my head", par laquelle il spatialise l'espace mental, duquel il nous invite à sortir rapidement.
De la maison-mémoire, que m'invite à visiter la question de la mobilité, à la spatialisation de la mémoire.
L'écriture a vécue la question de la spatialisation ( poésie concrète, spatialisme...), les arts plastiques ont vécus les début de l'installation, le cinéma a suivi le même processus. On a spatialisé la 2 d. Mais qu'avons nous fait de l'espace existant?
Des bâtiments qui ne sont plus construit pour durer et qui offrent, cette vision entropique de l'architecture actuelle; G.Matta Clark et les débuts de l'anarchitecture .Robert Smithson du point de vue du paysage. Des paysages perçus en mouvement. Des constructions sans durée. Des villes-mouvantes aux terrains vagues florissants. Des sculptures qui introduisent la fusion des plans. Qui danses dans la fixité.
Au travers tous ces flux, ceux du monde et ceux de nos corps au quotidien, l'idée de la maison appelle l'idée du point fixe, peut être du point de fuite. Celui à partir de quoi l'équilibre se crée.
Mais lorsqu'on multiplie les points fixes dans le champs, la perspective vibre. Et pourtant de nouveaux équilibres se dessinent à mesure. Des équilibres en mouvement, des équilibres en vibration. Purs flux.
Je pense à la maison-mémoire. Aux maisons de mémoires "volontaires" qui m'ont permis d'archiver, de collectionner des mémoires "involontaires", à la base de tout acte créatif.
passagens de Bernardo Soares pelo sentimento da CASA, I
(...) Contento-me, afinal, com muito pouco: o ter cessado a chuva, o haver um sol bom neste Sul feliz, bananas mais amarelas por terem nódoas negras, a gente que as vende porque fala, os passeios da Rua da Prata, o Tejo ao fundo, azul esverdeado a ouro, todo este recanto doméstico do sistema do Universo. (...) [frag. 170. org. R. Z.]
(...) Sou uma casa viúva, claustral de si mesma, sombreada de espectros tímidos e furtivos. Estou sempre no quarto ao lado ou estão eles, e há grandes ruídos de árvores em meu torno. Divago e encontro; encontro porque divago. Meus dias de criança vestidos vós mesmos de bibe! (...) [frag. 174. org. R. Z.}
(...) Sou uma prateleira
de frascos
vazios
(...)
[frag. 184]
F. Pessoa, com 1 ano
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