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---------- Mensagem encaminhada ----------
Data: 5 de novembro de 2011 13:05
Assunto: Sobre as casas
Então um pedreiro veio para frente e disse: "Fala-nos das casas".
Data: 5 de novembro de 2011 13:05
Assunto: Sobre as casas
Então um pedreiro veio para frente e disse: "Fala-nos das casas".
E ele respondeu dizendo:
Construí em vossas imaginações uma choupana no mato antes de construirdes uma casa dentro das muralhas da cidade.
Pois assim como tendes regressos ao crepúsculo, também os tem o viajante dentro de vós, sempre distante e solitário.
A vossa casa é vosso corpo maior.
Cresce ao sol e dorme na quietude da noite; e não é desprovida de sonhos. A vossa casa não sonha? E sonhando, deixa a cidade pelo bosque ou colina?
Pudesse eu juntar as vossas casas na minha mão, e como um plantador espalhá-las pelas florestas e pelos prados.
Puderam os vales serem vossas ruas, e os caminhos verdejantes vossas vielas, que procurásseis uns aos outros pelos vinhedos, e chegásseis com a fragrância da terra em vossas roupas.
Mas essas coisas ainda estão por acontecer.
Em seu medo vossos antepassados vos ajuntaram muito próximos uns dos outros. E esse medo há de perdurar por mais algum tempo. Por mais algum tempo as muralhas de vossa cidade hão de separar vossos lares de vossos campos.
E dizei-me, povo de Orfalés, que tendes vós nessas casas? E o que guardais com portas trancadas?
Tendes paz, o anseio calmo que revela vosso poder?
Tendes recordações, os arcos cintilantes que se estendem por sobre os cumes da mente?
Tendes beleza, que leva o coração das coisas talhadas em madeira e pedra para a montanha sagrada?
Dizei-me, tendes isto em vossas casas?
Ou tendes apenas conforto, e desejo de conforto, essa coisa furtiva que entra em vossa casa como convidado, se torna anfitrião, e depois mestre?
Ah, e se tranforma em domador, e com laço e açoite faz marionetes dos vossos desejos maiores.
Embora suas mãos sejam sedosas, o seu coração é de ferro.
Embala-vos no sono apenas para ficar junto de vossa cama e zombar da dignidade da carne. Faz escárnio de vossos sentidos sãos, e os deposita nas plumas do cardo como frágeis embracações.
Em verdade o desejo de comforto assassina a paixão da alma, e depois caminha sorrindo no funeral.
Mas vós, filhos do espaço, vós inquietos em repouso, não heis de ser fisgados nem domados.
Vossa casa há de ser não uma âncora mas um mastro.
Não há de ser uma película reluzente que cobre uma ferida, mas uma pálpebra que guarda o olho.
Vós não heis de dobrar vossas asas para passardes pelas portas, nem curvar vossas cabeças para que não batam no teto, nem temer respirar possam as paredes racharem e desmoronarem.
Vós não heis de habitar túmulos feitos pelos mortos para os vivos.
E embora de magnificência e esplendor, a vossa casa não há de deter vosso segredo nem abrigar vosso anseio.
Pois aquilo que é ilimitado em vós reside na mansão do céu, cuja porta é a névoa da manhã, e cujas janelas são as canções e silêncios da noite.
(Khalil Gibran, O Profeta)
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