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Mademoiselle Paradis não aceita que o Concorde tenha ultrapassado a velocidade do som. Pensa que, se assim fosse, dentro d'aeronave não escutaríamos nada. E se diz (num tom Sherlock Holmes) : il y quelque chose que ne colle pas dans cette histoire. Le mur du son, quelque chose que t'entraîne.
Mademoiselle Paradis, que será sempre jovem porque sempre amada e sempre amante, não se importa com os grandes feitos da humanidade. Não se engloba no apocalipse, no pé do Neil Armstrong, na lepra, no cosmos, perguntando assim : qu'est-ce que c'est l'esthétique de la disparition?
Mademoiselle Paradis caminhando pelo pavimento, pedindo lincença, est-ce que je peux passer avec toi?
Mademoiselle Paradis arregalando os olhos enquanto pede um sandwich : mais qu'est-ce qu'on peut faire, alors? J'ai faim et je n'ai pas de sous. O garçom que deita o mal humor por terra, embrulha e dá, sorrindo, um jambon crudité.
Je sens plus que je pense, diz Mademoiselle Paradis. A sua lógica é outra lógica, onde "logos" se faz "logis" e, logo, logement.
Mademoiselle Paradis não acredita na violência. Gandhi e Martin Luther King - aqui - não são só what a wonderful world.
Eu sorrio e me enervo. Adoraria poder ver Paradis nadando - nos seus olhos a mistura de névrose et sommeil - um reflexo.
Eu lhe encho de beijos e de cócegas ligeiras dizendo que são mosquitos em torno de uma lâmpada. Observo um dos seus seios e, para ver melhor, movo o seu braço esquerdo em várias posições.
Ela diz que ça c'est la poésie et l'enchantement. Quel cosmos de plus?
A gente dorme - eu contra o muro - e ainda assim ela não puxa o meu cobertor.
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