Mnémotique - -
- - - - - - Du lit de l'enfance aux reflets superposés de celui d'une chambre récente - -
Revista Virtual Astro-Lábio de Arte & Literaturas 2ª edição_
Casa e suas adjacências – jardim, muro, mobiliário, caracol, tapete, cozinha, etc.
BLOG DO PROCESSO
DIÁRIO POLIFÔNICO
CASA EM OBRAS
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aqui de onde escrevo
é sombrio e ensolarado
ao mesmo tempo
o tronco e o abraço
o único pilar da casa
a copa destampando o calor
desenhos de um piso movediço
meus pensamentos
estas clareiras abertas
alternando penumbras
passos empoçados
fundos falsos desfeitos
em abrigos para teus olhos
[ Carol, ]
em: http://www.artecapital.net/opinioes.php?ref=27
Alfred North Whitehead
A gravidade não era um problema urgente para Isaac Newton até à tarde da maçã, quando lhe ocorreu que a trajectória vertical descendente da queda não era por si mais legítima que uma parábola ou uma ascensão. Era preciso que uma verdadeira força – e não o desgaste do pedúnculo da fruta - trabalhasse para o efeito, determinando irresistivelmente o início e o final do movimento. A atracção da matéria, a atracção exercida pela terra sobre a maçã (e reciprocamente, pela maçã sobre a terra), a extensão dessa realidade ao universo, foram intuições que nasceram assim.
A gravidade interessou muito o holandês Bas Jan Ader, que encenou recorrentemente a sua própria queda. Ader caía de uma árvore, caía de um telhado, caía num canal. Também fazia cair objectos pesados, como tijolos, sobre outros objectos mais pessoais (um vaso com flores, um bolo de aniversário, lâmpadas...), cuja fragilidade lembrava a do ser humano vulnerável a forças inelutáveis, de que a gravidade é uma metáfora.
Ader acreditava na atracção irresistível do centro da terra, mas também no desgaste do pedúnculo. Aguentou enquanto pôde os pesos que segurava sobre as lâmpadas que lhe iluminavam certa performance, até não poder mais e deixá-los cair, mergulhando a cena na escuridão.
Nos filmes que fez dessas representações, a queda tem o mesmo efeito prático de supressão da luz, ao marcar o fim. A consumação da queda anuncia o fim iminente da narrativa; como se cessado o movimento, nada mais houvesse para ver. Ao contrário, as séries fotográficas permitem a fruição dos instantes captados segundo um tempo pessoal. Essa complementaridade entre os dois registos – filme e fotografia - da performance, multiplicando a intensidade da sua recepção, é um exemplo da solidez conceptual da obra de Ader.
Cair é uma condição humana, parece querer dizer-nos Bas Jan Ader, que a representava de maneira individual, a única que lhe interessava. Numa obra que se estende por meia dúzia de anos, os motivos da separação e da distância alternam-se e confundem-se; de forma desconcertante, em “I`m Too Sad to Tell You” ele limita-se a chorar para a câmara, sem que o espectador precise de discernir a razão. Um dispositivo tão simples não pode ser recebido sem desconfiança; e quem o concebe não pode deixar de sabê-lo. A ironia de Ader consiste em perceber que a sua auto-exposição com filme e fotografia provavelmente gera distância na reacção e reserva no julgamento de quem a vê; e em prosseguir mesmo assim o seu programa, como se esse constrangimento não importasse, deixando pairar a dúvida de ser afinal sincero o gesto.
Ao impor um modus operandi assente numa ironia raras vezes aberta (uma excepção é “On the Road to a new Neo Plasticism”, série fotográfica que parodia o esquematismo do compatriota Piet Mondrian), Ader salvaguarda a ambiguidade interpelante do seu trabalho. A sua tragédia pessoal (o pai, que escondia e ajudava judeus, foi fuzilado pelos nazis quando ele tinha dois anos) pode alimentar as alusões à dor, risco e morte súbita que atravessam várias das peças. Mas a estranha facilidade com que ele se instala num território avesso à leitura unívoca, e a convicção com que o faz, obrigam a voltar permanentemente a um espaço só da obra.
A sua última performance, “In Search of the Miraculous”, tomava o nome emprestado ao livro que o filósofo Piotr Uspenski consagrou aos ensinamentos recebidos do seu mestre espiritual, o místico George Gurdjieff, durante os anos da Primeira Guerra Mundial. Uspenski começa o livro explicando como o miraculoso para ele era algo alcançável apenas no Oriente, e não mais na Europa, onde há muito deixara de existir. O miraculoso que Ader buscava ia levá-lo de volta a essa Europa de onde ele saíra aos 20 anos; a geografia e a óbvia referência do regresso ao seu país (que ele não deixara de ir visitando entretanto) certamente lhe importavam menos do que a busca, sendo esta a fusão lógica da sua arte e da sua vida. Viagem de arte, vida como arte, doravante seria expectável uma necessária comunhão da ironia com a odisseia no percurso de Ader.
“In Search of the Miraculous”, jornada em três fases de Los Angeles a Amesterdão, não chegou ao fim. O veleiro de 4 metros em que Ader largara sozinho de Cape Cod em Julho de 1975, para atravessar o Atlântico com destino à Grã-Bretanha, foi encontrado dez meses depois, vogando com a proa completamente submersa, e sem sinais do corpo do piloto. Desaparecido aos 33 anos, idade boa para a lenda e para o esquecimento, Ader prolonga nesse desfecho da obra, que ele entrelaçou com a vida, a ressonância da queda que o acompanhou desde o início. O homem que ia ao encontro da gravidade - e a cujo misterioso último acidente seria aplicável um dos principia de Newton: as proposições deduzidas pela observação de um fenómeno devem ser tidas por verdadeiras até que outro fenómeno as confirme ou desminta – foi o protagonista de uma viagem que, tal como a de Ulisses, não cabia no mar onde principiou.
Marcelo Felix
Cineasta
em: http://www.patamagazine.com/?q=it/bas-jan-ader
Bas Jan Ader
Al giorno di oggi vedere video come questi fa un effetto un po' strano. Un po' contaminati dai vari Jackass e i vari emulatori con i loro i video che spopolano su youtube. Loro un po' come Jimmi Hendrix che spacca la chitarra solo così, per spaccarla, il nostro invece ha in mente qualcosa.
Il suo corpo si lascia catturare dalla forza di gravità e la rende visibile ai nostri occhi, un po' come Munari e le forme rivelatrici d'aria, si lascia cadere subendo un'accelerazione di 9,81m/sq, e noi, numeri a parte lo notiamo; cosa che invece non facciamo quando vediamo una persona ferma con i piedi ben saldati a terra per quella stessa forza che ci governa.
Ma che Bas Jan Ader sia altro rispetto agli odierni fenomeni da baraccone, pare essere cosa certa e ovvia, lui è veramente interessato e romantico, lui si mette di fronte a una videocamera e piange, I'm too sad to tell you, prende una barca a vela grande come quelle che si usano per insegnare i principi della vela ai bambini e (non senza una certa esperienza nel campo) cerca di attraversare l'Atlantico in search of the miraculous senza lasciar più traccia di se, svanendo per sempre (1975).
Il video, non è un originale di Jan Ader, ma di un utente di youtube che ha fatto un riassunto veloce, ma ben esplicativo delle sue opere.
Nel novembre 2008 è uscito un dvd del documentario girato da Rene Daalder, Here is always somewhere else sulla vita e le opere di Jan Ader.
Il suo corpo si lascia catturare dalla forza di gravità e la rende visibile ai nostri occhi, un po' come Munari e le forme rivelatrici d'aria, si lascia cadere subendo un'accelerazione di 9,81m/sq, e noi, numeri a parte lo notiamo; cosa che invece non facciamo quando vediamo una persona ferma con i piedi ben saldati a terra per quella stessa forza che ci governa.
Ma che Bas Jan Ader sia altro rispetto agli odierni fenomeni da baraccone, pare essere cosa certa e ovvia, lui è veramente interessato e romantico, lui si mette di fronte a una videocamera e piange, I'm too sad to tell you, prende una barca a vela grande come quelle che si usano per insegnare i principi della vela ai bambini e (non senza una certa esperienza nel campo) cerca di attraversare l'Atlantico in search of the miraculous senza lasciar più traccia di se, svanendo per sempre (1975).
Il video, non è un originale di Jan Ader, ma di un utente di youtube che ha fatto un riassunto veloce, ma ben esplicativo delle sue opere.
Nel novembre 2008 è uscito un dvd del documentario girato da Rene Daalder, Here is always somewhere else sulla vita e le opere di Jan Ader.
em: http://www.artecapital.net/opinioes.php?ref=27
BAS JAN ADER, TRINTA ANOS SOBRE O ÚLTIMO TRAJECTO
MARCELO FELIX
2006-08-17
Procura a simplicidade e desconfia dela.Alfred North Whitehead
A gravidade não era um problema urgente para Isaac Newton até à tarde da maçã, quando lhe ocorreu que a trajectória vertical descendente da queda não era por si mais legítima que uma parábola ou uma ascensão. Era preciso que uma verdadeira força – e não o desgaste do pedúnculo da fruta - trabalhasse para o efeito, determinando irresistivelmente o início e o final do movimento. A atracção da matéria, a atracção exercida pela terra sobre a maçã (e reciprocamente, pela maçã sobre a terra), a extensão dessa realidade ao universo, foram intuições que nasceram assim.
A gravidade interessou muito o holandês Bas Jan Ader, que encenou recorrentemente a sua própria queda. Ader caía de uma árvore, caía de um telhado, caía num canal. Também fazia cair objectos pesados, como tijolos, sobre outros objectos mais pessoais (um vaso com flores, um bolo de aniversário, lâmpadas...), cuja fragilidade lembrava a do ser humano vulnerável a forças inelutáveis, de que a gravidade é uma metáfora.
Ader acreditava na atracção irresistível do centro da terra, mas também no desgaste do pedúnculo. Aguentou enquanto pôde os pesos que segurava sobre as lâmpadas que lhe iluminavam certa performance, até não poder mais e deixá-los cair, mergulhando a cena na escuridão.
Nos filmes que fez dessas representações, a queda tem o mesmo efeito prático de supressão da luz, ao marcar o fim. A consumação da queda anuncia o fim iminente da narrativa; como se cessado o movimento, nada mais houvesse para ver. Ao contrário, as séries fotográficas permitem a fruição dos instantes captados segundo um tempo pessoal. Essa complementaridade entre os dois registos – filme e fotografia - da performance, multiplicando a intensidade da sua recepção, é um exemplo da solidez conceptual da obra de Ader.
Cair é uma condição humana, parece querer dizer-nos Bas Jan Ader, que a representava de maneira individual, a única que lhe interessava. Numa obra que se estende por meia dúzia de anos, os motivos da separação e da distância alternam-se e confundem-se; de forma desconcertante, em “I`m Too Sad to Tell You” ele limita-se a chorar para a câmara, sem que o espectador precise de discernir a razão. Um dispositivo tão simples não pode ser recebido sem desconfiança; e quem o concebe não pode deixar de sabê-lo. A ironia de Ader consiste em perceber que a sua auto-exposição com filme e fotografia provavelmente gera distância na reacção e reserva no julgamento de quem a vê; e em prosseguir mesmo assim o seu programa, como se esse constrangimento não importasse, deixando pairar a dúvida de ser afinal sincero o gesto.
Ao impor um modus operandi assente numa ironia raras vezes aberta (uma excepção é “On the Road to a new Neo Plasticism”, série fotográfica que parodia o esquematismo do compatriota Piet Mondrian), Ader salvaguarda a ambiguidade interpelante do seu trabalho. A sua tragédia pessoal (o pai, que escondia e ajudava judeus, foi fuzilado pelos nazis quando ele tinha dois anos) pode alimentar as alusões à dor, risco e morte súbita que atravessam várias das peças. Mas a estranha facilidade com que ele se instala num território avesso à leitura unívoca, e a convicção com que o faz, obrigam a voltar permanentemente a um espaço só da obra.
A sua última performance, “In Search of the Miraculous”, tomava o nome emprestado ao livro que o filósofo Piotr Uspenski consagrou aos ensinamentos recebidos do seu mestre espiritual, o místico George Gurdjieff, durante os anos da Primeira Guerra Mundial. Uspenski começa o livro explicando como o miraculoso para ele era algo alcançável apenas no Oriente, e não mais na Europa, onde há muito deixara de existir. O miraculoso que Ader buscava ia levá-lo de volta a essa Europa de onde ele saíra aos 20 anos; a geografia e a óbvia referência do regresso ao seu país (que ele não deixara de ir visitando entretanto) certamente lhe importavam menos do que a busca, sendo esta a fusão lógica da sua arte e da sua vida. Viagem de arte, vida como arte, doravante seria expectável uma necessária comunhão da ironia com a odisseia no percurso de Ader.
“In Search of the Miraculous”, jornada em três fases de Los Angeles a Amesterdão, não chegou ao fim. O veleiro de 4 metros em que Ader largara sozinho de Cape Cod em Julho de 1975, para atravessar o Atlântico com destino à Grã-Bretanha, foi encontrado dez meses depois, vogando com a proa completamente submersa, e sem sinais do corpo do piloto. Desaparecido aos 33 anos, idade boa para a lenda e para o esquecimento, Ader prolonga nesse desfecho da obra, que ele entrelaçou com a vida, a ressonância da queda que o acompanhou desde o início. O homem que ia ao encontro da gravidade - e a cujo misterioso último acidente seria aplicável um dos principia de Newton: as proposições deduzidas pela observação de um fenómeno devem ser tidas por verdadeiras até que outro fenómeno as confirme ou desminta – foi o protagonista de uma viagem que, tal como a de Ulisses, não cabia no mar onde principiou.
Marcelo Felix
Cineasta